
Cozinha com conhecimento!
Um pouco de história da alimentação
Com uma incrível ironia, o ensaísta britânico Charles Lamb (1775-1834), conta em A Dissertation on Roast Pig, como os seres humanos descobriram pela primeira vez como cozinhar ou, mais precisamente, como assar, depois de comer “durante as primeiras 70 mil eras” a carne crua, “dilacerando ou mordendo-a do animal vivo”.
A história, supostamente descoberta num artigo manuscrito chinês, conta sobre o jovem filho de um criador de porcos que pôs acidentalmente fogo na cabana deles, que queimou inteiramente, matando nove porcos. Ao inclinar-se para tocar um dos porcos mortos, o filho queimou os dedos e instintivamente levou-os à boca, para esfriá-los, e assim provou um sabor delicioso, nunca antes experimentado pela humanidade.
Reconhecendo naquilo uma coisa boa, o criador de porcos e seu filho construíram então uma série de cabanas para queimar (assar) os porcos e produzir a carne com um sabor tão maravilhoso. O segredo deles espalhou-se, construir cabanas simples e atear fogo com os porcos dentro. Por fim, “no processo do tempo, apareceu um sábio... que fez uma descoberta: a carne de porco ou de qualquer outro animal pode ser cozida (queimada, como chamavam) sem a necessidade de se construir uma cabana inteira para isso”.
Até o início do século XX, nós seres humanos, continuávamos a fazer fogueiras cada vez que queríamos cozinhar. É claro que já aprendêramos a fazer as fogueiras em lareiras na cozinha e, mais tarde, a confiná-las em espaços fechados, e chamamos de fornos. Mesmo assim, cada cozinheiro tinha de fazer a própria fogueira, coisa trabalhosa, para assar, cozinhar ou até mesmo para ferver um pouco de água.
Mas não precisava ser assim.
E se pudéssemos construir um único fogo, imenso, num local remoto, e de algum modo capturar sua energia e levá-la, como leite fresco, diretamente a milhares de cozinhas? Bem, parece estranho, mas isso acontece com o milagre da eletricidade.
Apenas há cem anos descobrimos como queimar enormes quantidades de combustível numa usina central, usar o calor do fogo para aquecer água e produzir vapor, usar esse vapor para gerar energia elétrica e então enviá-la por centenas de quilômetros a milhares de lares, e por consequência a milhares de cozinhas, e claro a milhares de cozinheiros e cozinheiras que podem transformá-la em calor para assar, tostar, ferver e grelhar. Tudo isso vindo de uma única fogueira. Ufa!
No início, usávamos essa nova forma de fogo, que se transforma em energia elétrica, para substituir o gás de iluminação de rua e as salas de visitas das casa (claro que aquelas que tinham sala de visitas!). Então, em 1909, a eletricidade passou à cozinha quando a General Eletric e a Westinghouse comercializaram suas primeiras torradeiras elétricas. Na sequencia, vieram os fogões elétricos, os fornos e as geladeiras.
Parece perfeito, que nada mais precisaria ser mudado. Os aparelhos elétricos e os a gás pareciam ser tudo o que precisávamos, certo? Bem, até que foi inventado um novo método inteiramente novo, sem fogo: o forno de micro-ondas. Funcionava com um princípio inteiramente novo que poucas pessoas conheciam e, como consequência, muitos tinham medo dele. Algumas pessoas ainda temem o forno de micro-ondas que, apesar de sua presença na maioria das casas, ainda é o mais estranho dos aparelhos domésticos. Sim, funciona com eletricidade, mas, diferente de outros equipamentos de cozer, aquece os alimentos de uma forma jamais sonhada, sem sequer ter, ele mesmo de ficar quente! É o primeiro modo de cozinhar novo em mais de um milhão de anos!
Divirta-se, aprenda, cozinhe!
